05 maio 2009

Chegou com a Gripe

Este texto chegou como comentário a um "post" deste Blog. Aqui o deixo, como é hábito, sempre que Naia Castro se manifesta, no seu estilo inconfundível.


Estimado e saudoso Sr Perdigão,Estive ausente(?). Ausente é estar presente noutro sítio. Porque o pensamento e a memória estão onde está o coração e a inquietação (porventura, também, a paz e a tranquilidade).
Não. Na memória não estive ausente. Nem mesmo deixei de vos visitar. Apenas não me tenho manifestado. O silêncio acolhe as melhores mensagens da vida e da Alma. Sr Perdigão, “Cativar é criar laços” e eu criei laços consigo.
Talvez, apenas, muito à minha maneira. Que culpa tenho que poucos entendam a memória e o pensamento? Em mim, estão sempre onde quero. Visitam quem quero. Revêem e falam com quem quero.

Claro que as respostas são muito poucas. A maior parte de nós é como Tomé... Vejo e revejo que tem necessidade de visitar lugares, de dizer, cantar e escrever palavras. Vejo que dentro de cada representação das acções que leva à prática, de alguma forma se revê e tenta ser feliz. Vejo que cada nota, cada palavra é uma busca para a maior aproximação possível de si mesmo.

Tanta acção! Tão pouca contemplação! Tanta nota, tanto som, tão pouco silêncio. Tanto sítio, tanta mão estendida, tanto sorriso dado, tanta partilha, tanta amizade, tão bom coração, tão cheio. Mas tão pouco vazio. Tão pouco nada! Faz-nos falta o nada, o vazio, sabia? Ou sabe e faz de avestruz?!

Quem sou eu? Dir-me-à no fundo de si mesmo. Quando já sabe que sou a impertinência do reparo, o olho que vê para além da máscara, a frontalidade de destapar o sol e tirar-lhe a peneira, a Fé de que o Sr Perdigão me há-de acompanhar, ainda que só na memória e a esperança que perceba que não se dá peixe quando se quer realmente ajudar.
Não se vendem preservativos quando se quer realmente ajudar. Ao menos e no mínimo deviam apenas ser distribuídos gratuitamente, mas há que vendê-los, ah pois! e mais, tapar os olhos ao povo e dizer-lhes, que nós os civilizados e evoluídos afirmamos e garantimos que são a melhor solução!
De resto podem continuar e manter hábitos promíscuos, falta de higiene pessoal e mental, falta de saneamento básico, falta de ferramentas para cultivar a terra, iliteracia, falta de ensino básico, falta de ensinar a ter vontade e personalidade.. tudo...podem continuar com todo o tipo de vida decrépita, que, nós, aliás, cá no Norte, mantemo-nos empenhados e tudo fazemos para garantir que assim seja.

Ah, já me esquecia das armas. Porque o Hemisfério Norte faz tudo para que a África acredite que só defendendo os seus ideais com armas e a sua saúde com preservativos é que acaba com os flagelos por que tem passado.
De resto, continuem a comprar-nos e a pedir mais dinheiro para nos comprarem ainda mais... Adoramos a dívida externa dos países pobres... Sr Perdigão esteve em África. Por acaso passou-lhe despercebida aquela sensação forte de que efectivamente nada têm? E aquela sensação de que olham para si com os olhos obcecados a transbordar de esperança? Aquela estranha sensação que parece um sufoco na garganta porque olham para nós com a esperança de quem aguarda o Messias? Não deu conta da infinita leveza e da grande dependência daquelas vidas? Quase parece que se pegássemos numa criança daquelas ela vinha connosco, para as nossas vidas, para onde quer que fosse, qual cão perdido do dono...

A minha esperança é que alguém acorde e siga a acordar mais alguém... os galos já só cantam na aldeia e as aldeias estão desertas... a minha esperança é que acordem alguns porque mesmo sendo só alguns sempre podem fazer algum barulho.
A minha Fé é que mesmo que ninguém acorde e que mesmo que os poucos que mantém vigilância adormeçam, que apesar desta dormência mórbida em que todos andamos, um dia possamos enfim ver a Luz.
Agradeço, ainda se lembra porquê?

Naia Castro

P.S. Um sorriso a todos com quem falei algumas vezes

6 comentários:

Maria disse...

:))))

Bom dia, ZM.
Sem novidades, ainda!

Beijos

Anónimo disse...

Sr Perdigão!

Surpreende-me a acertividade e oportunidade do seu humor genuíno! Agradeço a grande gargalhada que me fez dar porque (re)apareço em tempo de crise, mas não vim do México. Portugal padece de uma gripe, bem pior que a do México e quem cá anda há mais de 20 anos já tem anticorpos.

Agradeço mesmo a gargalhada que dei!

Naia Castro

Rogério Charraz disse...

Epá, que saudades de Naia Castro, esse personagem assexuado, que aparece sabe-se lá de onde...

Naia Castro, sem ponta de ironia ou sarcasmo, deixe-me dizer-lhe que foi um prazer voltar a ler as suas palavras, que, diga-se, achei mais iluminadas, mais sorridentes e até mais transparentes.

Espero que não espere tanto tempo até novo regresso.

Abraço,

Rogério Charraz

Anónimo disse...

Estimado Sr Rogério Charraz,

(Não devia ter enviado foto...Não resisto a uma análise “endo-morfológica”. Já devia saber isso! Sou pior que as ciganas para lerem a sina... E, por outro lado, finalmente um rosto! E, ainda, agora que o vejo já deixei de o ver...)

Rosto típicamente cristológico (até tem olhos azuis)... nunca percebi porque estereotiparam a imagem de Jesus de Nazaré, de preferência com olhos azuis. Robert Powell terá sido o actor que melhor definou os estereotipos cinematográficos para este rosto. Se a sua foto chegasse a um destes realizadores, em particular no final dos anos 70... Bem, obviamente tem um rosto com formas que exprimem circunspecção e alguma reserva e timidez. Em termos formais origens marcadamente mediterrânicas (cor de cabelo, nariz afilado, traços curtos e secos com ossada bem definida). No entanto não deixa de ter intercâmbios nórdicos – pele muito branca e olhos muito claros. À parte da rigidez do rosto (os mediterrânicos e médio orientais têm rostos considerados rigidos por serem afilados, magros e de ossadas “fechadas”) tem um sorriso que transmite abertura, espontaneidade, mas alguma busca de tranquilidade. Deve ser uma pessoa de trato agradável, mas arrisco dizer que apenas se manifesta se tiver algum à vontade, preferindo ficar calado e observante perante o que desconhece ou não entende. O olhar transmite perspicácia. As suas palavras transmitem grande sensibilidade (até porque tenho consciência que não sou alvo fácil) e o Sr Rogério acertou em pleno – o tempo, as contrariedades, as arguras, em mim, têm tido efeitos adoçantes e, por outro lado, a minha preocupação com o estado das coisas é cada vez menor, pois vejo cada vez mais e maiores sofrimentos à minha volta. Vejo Homem de costas voltadas para si mesmo e para o Essencial. Faço minhas as palavras de Elis Regina em “Os nossos pais” – “Vejo vir vindo no vento o cheiro de uma nova estação”. Mas acrescento – antes disso vamos passar muitos e duros invernos e pressinto que muitos vão sucumbir e serão, primeiro e sempre, os mais fracos, os mais pobres, os mais pequenos e os mais novos. Sofro muito com o sofrimento do mundo, porque os que sofrem são os que menos podem e, em particular, no caso das crianças... tranca-se-me o coração!

Sr Rogério – parabéns quebrou barreiras comigo (entenda-se o figurativo, obviamente) e tem um rosto que as raparigas devem gostar. Da minha parte vejo apenas alguém bastante sincero e puro, mas com demasiada necessidade de racianalização, em particular face ao desconhecido.

Entretanto e correndo o risco de ser oportunista (mas a causa é bastante altruísta) faço um apelo aos Srs. Recebi hoje uma mensagem interessante a respeito da (falta) água que, como sabem, é uma das minhas grandes preocupações e espero que não seja mais uma trapalhada de angariação oculta de publicidade e promoção indevida à custa de sofrimentos reais – p.f. visitem e divulguem – vendo-vos o peixe como me venderam a mim:

"Arrancou esta semana em Portugal um projecto pioneiro de solidariedade. A água embalada Earth Water é o único produto no mundo com o selo do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), revertendo os seus lucros a favor do programa de ajuda de água daquela instituição.

A nível nacional, a Earth Water é um projecto que conta com a colaboração da Tetra Pak, do Continente, da Central Cervejas e Bebidas, da MSTF
Partners, do Grupo GCI e da Fundação Luís Figo.

Com o preço de venda ao público (PVP) de 59 cêntimos, a embalagem de Earth Water diz no rótulo que «oferece 100% dos seus lucros mundiais ao programa
de ajuda de água da ACNUR», apresentando, mais abaixo, o slogan «A água que
vale água».

Actualmente morrem 6 mil pessoas no mundo por dia por falta de água
potável.

Com 4 cêntimos, o ACNUR consegue fornecer água a um refugiado por um dia.

http://earth-water.org/

"Todos os dias morrem seis mil pessoas devido à falta de água potável e
destas, 80% são crianças. A cada 15 segundos morre uma criança devido a uma
doença relacionada com a água.

Com a criação da Earth Water pretende fazer-se a diferença e melhorar estas
estatísticas assustadoras. Ao desenvolver o conceito "You Never Drink
Alone" pretende-se criar solução para a falta de água mundial.


Agradeço.
Naia Castro

Anónimo disse...

À Naia Castro,

No latir dos cães da aldeia onde os ferreiras criaram seus solares, a memória, que grata seja, marca o tempo.
O promontório e os castros assistem ao rimbombar dos sinos do mosteiro carmelita, como se a noite fosse eterna e os mochos não existissem.
Repenso no rosto da pessoa que, ainda que distante, respira e um sorriso grande devolve a cor ao horizonte.

Amanhã também é... Dia!

Anónimo disse...

Sr Ilustre Anónimo que a Naia Castro dedica alguma compreensão da sua origem eventualmente por que há um mesmo sentir... que me comprova a firme certeza que tenho: na noite, tantas vezes, alguém chama por mim! Serão os castros, será o mosteiro, será alguém real de carne e osso...o que(m) será? É uma certeza o que sinto e ouço, mas um mistério indizível que não entendo.

O amanhã é sempre o que mais procuro, porque o amanhã vem sempre com o dia e o dia trás a Luz e uma outra oportunidade de múltiplas hipóteses que posso ou não seguir.

Até quando? Até onde? Ah pudera eu abarcar o chamamento, já...

Mas é mesmo como diz: "amanhã também é dia" e mesmo quando os meus dias acabarem, amanhã será o dia eterno.

Agradeço.

Naia Castro

Tantas vezes que na noite tenho a firme certeza que alguém chama por mim!