13 maio 2009

Boato

Boato é o nome do último disco de JP Simões.
Teatral, belíssimo nas letras e nas interpretações ao vivo.
Um disco de coragem!
Ouçam-no. É imprescindível!

Aqui deixo uma das melhores definições de "cantiga" e que se pode ver no MySpace do autor.

"Caros amigos:

Aproveito esta brecha de espaço público mais respirável para agradecer a quem tem suportado e aplaudido amavelmente as minhas canções desnaturadas
–é provável que se trate maioritariamente de gente doente ou prestes a adoecer, mas ainda bem pois é nas situações de excepcional virulência que eclodem as tão necessárias mudanças genéticas de que a humanidade anda sempre necessitada.
Uma canção, como vocês sabem, não serve para nada: não é nenhuma arma, nem nenhum panfleto e muito menos uma prescrição ou um diagnóstico do que quer que seja (tudo isso são desculpas esfarrapadas e sobreutilizadas numa cultura de utilitarismo aváro): uma canção é uma narcísica tentativa de reparação espiritual através do exorcismo paliativo da música e do frágil enredo da língua: um conjunto de canções como este representa uma série de sinais e cicatrizes num corpo vago a que chamo o meu tempo: não tenho pressa em saber qual o seu desenho definitivo, nem me compete fazê-lo. Uma pessoa constrói-se dentro das outras em forma de boato, de suspeita não certificada, cujo destino será mais o da conveniência do portador do que do remetente (e ainda falam em gestão de imagem, pobres crédulos!): de resto, devo acrescentar carinhosamente para quem lhe merecer o sentido, a sábia conclusão do meu amigo André Moitinho de Almeida:

Nunca nos apanharão vivos! "


PS: Obrigado Charrazito!

07 maio 2009

Tá com a força toda

Estimado Sr Rogério Charraz, (Não devia ter enviado foto...Não resisto a uma análise “endo-morfológica”.

Já devia saber isso! Sou pior que as ciganas para lerem a sina... E, por outro lado, finalmente um rosto! E, ainda, agora que o vejo já deixei de o ver...)

Rosto tipicamente cristológico (até tem olhos azuis)... nunca percebi porque estereotiparam a imagem de Jesus de Nazaré, de preferência com olhos azuis.
Robert Powell terá sido o actor que melhor definiu os estereótipos cinematográficos para este rosto.
Se a sua foto chegasse a um destes realizadores, em particular no final dos anos 70...
Bem, obviamente tem um rosto com formas que exprimem circunspecção e alguma reserva e timidez. Em termos formais origens marcadamente mediterrânicas (cor de cabelo, nariz afilado, traços curtos e secos com ossada bem definida).
No entanto não deixa de ter intercâmbios nórdicos – pele muito branca e olhos muito claros. À parte da rigidez do rosto (os mediterrânicos e médio orientais têm rostos considerados rígidos por serem afilados, magros e de ossadas “fechadas”) tem um sorriso que transmite abertura, espontaneidade, mas alguma busca de tranquilidade.

Deve ser uma pessoa de trato agradável, mas arrisco dizer que apenas se manifesta se tiver algum à vontade, preferindo ficar calado e observante perante o que desconhece ou não entende. O olhar transmite perspicácia. As suas palavras transmitem grande sensibilidade (até porque tenho consciência que não sou alvo fácil) e o Sr Rogério acertou em pleno – o tempo, as contrariedades, as arguras, em mim, têm tido efeitos adoçantes e, por outro lado, a minha preocupação com o estado das coisas é cada vez menor, pois vejo cada vez mais e maiores sofrimentos à minha volta.

Vejo Homem de costas voltadas para si mesmo e para o Essencial.
Faço minhas as palavras de Elis Regina em “Os nossos pais” – “Vejo vir vindo no vento o cheiro de uma nova estação”.
Mas acrescento – antes disso vamos passar muitos e duros invernos e pressinto que muitos vão sucumbir e serão, primeiro e sempre, os mais fracos, os mais pobres, os mais pequenos e os mais novos.
Sofro muito com o sofrimento do mundo, porque os que sofrem são os que menos podem e, em particular, no caso das crianças... tranca-se-me o coração!

Sr Rogério – parabéns quebrou barreiras comigo (entenda-se o figurativo, obviamente) e tem um rosto que as raparigas devem gostar.
Da minha parte vejo apenas alguém bastante sincero e puro, mas com demasiada necessidade de racionalização, em particular face ao desconhecido.

Entretanto e correndo o risco de ser oportunista (mas a causa é bastante altruísta) faço um apelo aos Srs.
Recebi hoje uma mensagem interessante a respeito da (falta) água que, como sabem, é uma das minhas grandes preocupações e espero que não seja mais uma trapalhada de angariação oculta de publicidade e promoção indevida à custa de sofrimentos reais – p.f. visitem e divulguem – vendo-vos o peixe como me venderam a mim:
"Arrancou esta semana em Portugal um projecto pioneiro de solidariedade. A água embalada Earth Water é o único produto no mundo com o selo do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), revertendo os seus lucros a favor do programa de ajuda de água daquela instituição.A nível nacional, a Earth Water é um projecto que conta com a colaboração da Tetra Pak, do Continente, da Central Cervejas e Bebidas, da MSTFPartners, do Grupo GCI e da Fundação Luís Figo.Com o preço de venda ao público (PVP) de 59 cêntimos, a embalagem de Earth Water diz no rótulo que «oferece 100% dos seus lucros mundiais ao programade ajuda de água da ACNUR», apresentando, mais abaixo, o slogan «A água que vale água».

Actualmente morrem 6 mil pessoas no mundo por dia por falta de água potável.
Com 4 cêntimos, o ACNUR consegue fornecer água a um refugiado por um dia.http://earth-water.org/"Todos os dias morrem seis mil pessoas devido à falta de água potável e destas, 80% são crianças. A cada 15 segundos morre uma criança devido a uma doença relacionada com a água.
Com a criação da Earth Water pretende fazer-se a diferença e melhorar estasestatísticas assustadoras. Ao desenvolver o conceito "You Never DrinkAlone" pretende-se criar solução para a falta de água mundial.

Agradeço.

Naia Castro

05 maio 2009

Chegou com a Gripe

Este texto chegou como comentário a um "post" deste Blog. Aqui o deixo, como é hábito, sempre que Naia Castro se manifesta, no seu estilo inconfundível.


Estimado e saudoso Sr Perdigão,Estive ausente(?). Ausente é estar presente noutro sítio. Porque o pensamento e a memória estão onde está o coração e a inquietação (porventura, também, a paz e a tranquilidade).
Não. Na memória não estive ausente. Nem mesmo deixei de vos visitar. Apenas não me tenho manifestado. O silêncio acolhe as melhores mensagens da vida e da Alma. Sr Perdigão, “Cativar é criar laços” e eu criei laços consigo.
Talvez, apenas, muito à minha maneira. Que culpa tenho que poucos entendam a memória e o pensamento? Em mim, estão sempre onde quero. Visitam quem quero. Revêem e falam com quem quero.

Claro que as respostas são muito poucas. A maior parte de nós é como Tomé... Vejo e revejo que tem necessidade de visitar lugares, de dizer, cantar e escrever palavras. Vejo que dentro de cada representação das acções que leva à prática, de alguma forma se revê e tenta ser feliz. Vejo que cada nota, cada palavra é uma busca para a maior aproximação possível de si mesmo.

Tanta acção! Tão pouca contemplação! Tanta nota, tanto som, tão pouco silêncio. Tanto sítio, tanta mão estendida, tanto sorriso dado, tanta partilha, tanta amizade, tão bom coração, tão cheio. Mas tão pouco vazio. Tão pouco nada! Faz-nos falta o nada, o vazio, sabia? Ou sabe e faz de avestruz?!

Quem sou eu? Dir-me-à no fundo de si mesmo. Quando já sabe que sou a impertinência do reparo, o olho que vê para além da máscara, a frontalidade de destapar o sol e tirar-lhe a peneira, a Fé de que o Sr Perdigão me há-de acompanhar, ainda que só na memória e a esperança que perceba que não se dá peixe quando se quer realmente ajudar.
Não se vendem preservativos quando se quer realmente ajudar. Ao menos e no mínimo deviam apenas ser distribuídos gratuitamente, mas há que vendê-los, ah pois! e mais, tapar os olhos ao povo e dizer-lhes, que nós os civilizados e evoluídos afirmamos e garantimos que são a melhor solução!
De resto podem continuar e manter hábitos promíscuos, falta de higiene pessoal e mental, falta de saneamento básico, falta de ferramentas para cultivar a terra, iliteracia, falta de ensino básico, falta de ensinar a ter vontade e personalidade.. tudo...podem continuar com todo o tipo de vida decrépita, que, nós, aliás, cá no Norte, mantemo-nos empenhados e tudo fazemos para garantir que assim seja.

Ah, já me esquecia das armas. Porque o Hemisfério Norte faz tudo para que a África acredite que só defendendo os seus ideais com armas e a sua saúde com preservativos é que acaba com os flagelos por que tem passado.
De resto, continuem a comprar-nos e a pedir mais dinheiro para nos comprarem ainda mais... Adoramos a dívida externa dos países pobres... Sr Perdigão esteve em África. Por acaso passou-lhe despercebida aquela sensação forte de que efectivamente nada têm? E aquela sensação de que olham para si com os olhos obcecados a transbordar de esperança? Aquela estranha sensação que parece um sufoco na garganta porque olham para nós com a esperança de quem aguarda o Messias? Não deu conta da infinita leveza e da grande dependência daquelas vidas? Quase parece que se pegássemos numa criança daquelas ela vinha connosco, para as nossas vidas, para onde quer que fosse, qual cão perdido do dono...

A minha esperança é que alguém acorde e siga a acordar mais alguém... os galos já só cantam na aldeia e as aldeias estão desertas... a minha esperança é que acordem alguns porque mesmo sendo só alguns sempre podem fazer algum barulho.
A minha Fé é que mesmo que ninguém acorde e que mesmo que os poucos que mantém vigilância adormeçam, que apesar desta dormência mórbida em que todos andamos, um dia possamos enfim ver a Luz.
Agradeço, ainda se lembra porquê?

Naia Castro

P.S. Um sorriso a todos com quem falei algumas vezes