24 setembro 2008
É o que faz a gente andar a remexer nas memórias...
Canto Chão
"Uma rosa de água pura
que a manhã fria realça.
Rosa enfeitando a cintura
de uma paz que é podre e falsa.
E há uma infinita amargura
nesta Lisboa descalça.
No tejo das nossas vidas
correm destroços de tudo.
Maré das coisas perdidas
sobre as praias de veludo.
Ai quantas vidas esquecidas
num tempo que é surdo e mudo.
Poesia feita a machado!
Pão aberto com navalhas!
A cada um o seu fado:
simples canção de canalhas.
Quem nasce em berço doirado
é que reparte as migalhas.
O céu por cima das casas
é como o vinho em Setembro.
E os falcões ganharam asas
numa noite de Novembro.
O sangue é da côr das brasas
por razões que não me lembro!
Já nada pode apagar
esta nódoa no meu canto.
Há fogueiras a atear
oito séculos de espanto.
Por isso hei-de cantar.
Quanto mais dói mais eu canto."
Joaquim Pessoa, cantado por Carlos Mendes in Cantigas de Ex-Cravo e malviver.
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4 comentários:
Nas memórias, muitas vezes encontramos coisas que parecem ter sido criadas no momento presente.
Linda voz e linda canção
Que belo resultado deu a "remexidela"!
É uma vez especial e um poeta especial, também...
Obrigada, Zé Manel
Agora já começas a ser tu.
Aproveita a maré.
è lindo o poema.
Olá. A pesquisa no google trouxe-me a este teu post.
Tenho andado literalmente há anos a procurar este album do Carlos Mendes que le lembro de ouvir em casa na minha, errr, infância, pós Abril... Entretanto o Vinil que lá havia desapareceu. Sabes onde posso encontrar o album (tens???)
Abraço
F
PS: Já agora boas festas!
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