29 outubro 2007

Parvus versus experthus.

Mais um delicioso texto da Isabel Correia a dar brilho a estas penas.
Força Isabel!




Hoje resolvi assumir publicamente: sou parva.

Esta minha afirmação deve ser entendida no contexto de que neste pequeno país, banhado de azul imenso, generosamente acariciado pelo Sol e cujo fundador era curiosamente um esperto.
O ser humano está dividido em apenas dois grupos: os parvos (em via de extinção) e os espertos (que cada minuto que passa arrastam mais membros para as suas fileiras).

Os parvos são os que protegem e acarinham, são os que antes de agirem pensam primeiro nos outros e só depois neles próprios, são os que não atropelam ninguém na ânsia de chegar ao topo, porque tentam ser maiores apenas pelo valor que têm, são os que olham atentamente para o seu semelhante para tentar descobrir quais as suas necessidades, e para o ajudar a ultrapassá-las.

Os espertos são os arrogantes, são os que agem só pensando neles próprios, são os que fazem as coisas mais ignóbeis para subir na vida, são os que olham atentamente para o seu semelhante para tentar descobrir os seus pontos fracos de modo a poderem aniquilá-lo.

Não me tentem convencer de que poderá haver um meio-termo, um subgrupo, tipo parvo o suficiente sem ser esperto assumido, porque não é verdade. Se nós tentarmos agir como parvos quando nos cruzamos com um parvo, e espertos quando esbarramos com um esperto imediatamente nos transformaremos em espertos.

Como é do conhecimento geral, todos nós nascemos parvos, é depois com a aprendizagem que a vida nos dá, que alguns (a maioria) se modificam e se transformam em espertos. Os poucos que conseguem resistir ao forte apelo da esperteza, são os que heroicamente e por motivos que não consigo explicar, desenvolveram anormalmente o seu sentido de solidariedade e de consideração pelo seu semelhante, num estranho mundo onde não interessam os meios para conseguir atingir os fins.

Portanto mais uma vez afirmo, com grande orgulho… sou parva, e acrescento ainda, espero conseguir manter-me parva por muitos anos, coisa que não é fácil nos dias que correm, pois para não nos revoltarmos com o bombardeamento das vergonhosas acções dos espertos, é preciso cada vez mais um auto controlo quase sobre humano.

Isabel Correia

22 outubro 2007

Assim, não há nuvens que resistam!


Claro que todos nós já sentimos na pele, várias vezes na vida se tivermos sorte, e todas as segundas feiras se formos menos afortunados, o chamado “sindroma de segunda-feira”. Ora se pararmos um bocadito para pensar, a própria palavra ” segunda “ feira, desperta no nosso subconsciente uma certa relutância, porque durante toda a nossa vida aprendemos que o que não é de primeira é porque é de segunda. Logo proponho desde já, que o dia a seguir ao domingo, e antes de terça-feira, se passe a chamar “primeira feira”.

Agora que melhorámos o nome deste nosso problema semanal, passemos a melhorar o próprio dia em si.
Comecemos pela manhã, porque é pela manhã que se começa o dia, levantemo-nos então dos nossos leitos a pensar : que dia é hoje? ah, é verdade, hoje é primeira-feira! (mas atenção isto deve ser pensado com um sorriso nos lábios).
Passemos agora à nossa higiene diária, que deverá ser acompanhada por música. Levemos então o “cantante” para a casa de banho, e ponhamos a tocar no dito, uma ária de ópera, não interessa qual, mas é ponto assente que seja uma ária de ópera. Já dentro do banheira (ou da cabine de duche, porque neste caso tanto faz), fechemos os olhos e enquanto nos ensaboamos tentemos abstrair-nos de tudo o resto e sentir apenas os acordes da música... já estamos a melhorar, certo? Agora que o nosso astral já se elevou um bocadito, munamo-nos de uma tesoura e abandonemos o nosso doce lar.
De certeza que nas imediações da nossa humilde casita, haverá um jardim, um muro, qualquer coisa onde exista uma flor, não interessa o tipo de flor, todos nós sabemos que uma flor é uma flor, cortemo-la então, e dirijamo-nos para a nossa viatura. Claro que iremos apanhar muito trânsito até chegarmos ao nosso destino (para todos os outros seres humanos hoje é segunda-feira), mas o que é que isso interessa? Já pensaram que há locais bem piores para estar que o aconchego do nosso veículo? pensem só que em vez de estarem confortavelmente instalados no vosso “carrito” poderiam estar sei lá. num pântano cheio de crocodilos, ou a tomar banho num rio onde alguma fábrica tivesse feito uma descarga poluente, ou ... , há tantos sítios maus por ai.... Congratulemo-nos então com a nossa imensa sorte.

Chegados ao local de trabalho, cumprimentemos os nosso colegas. O cumprimento deverá ser adequado a uma primeira feira, qualquer coisa como “Muito bom dia caros colegas, como estão todos?” Haverão alguns que nem sequer nos respondem, outros dirão “estás muito bem disposto(a) hoje para uma segunda feira “, não liguemos a provocações, porque todos eles mais tarde ou mais cedo, nos irão implorar para partilharmos o segredo da boa disposição que conseguimos ter todas as primeiras/segundas feiras. A flor que cortámos quando saímos de casa, irá agora ter o seu protagonismo, devemos colocá-la em cima da secretária, em sítio bem visível, para que não nos esqueçamos de olhar para ela.

Chegou finalmente a hora de almoço, nada de ir comer ao restaurante do costume, ou no refeitório da Empresa. Primeira feira é dia de piquenique.
Teremos então de nos dirigir ao jardim ou parque mais próximo do nosso local de trabalho (todos nós sabemos que coisa que prolifera no nosso país são espaços verdes, portanto não vai ser difícil encontrar um) e ai tirarmos da marmita o arroz de tomate com jaquinzinhos fritos que trouxemos de casa, e que afortunadamente poderemos partilhar com as formigas e passaritos que encontrarmos nas redondezas. Bem dispostos retomaremos então o trabalho com aquele sorriso de primeira feira que só nós podemos ter.

Hora de regressar ao “doce lar”. Que pena temos de abandonar a florzita em cima da secretária, mas não faz mal, ela amanhã continuará no mesmo sitio e nós poderemos voltar a vê-la.
Chegámos agora à parte mais importante do nosso dia. Se fizerem questão de serem vocês próprios a confeccionar o jantar, estão à vontade, mas eu aconselhava a comer os restos do fim de semana, ou comprar qualquer coisita já feita, um sushi, um menu BigMac, uma pizza, ou aquilo que vos der mais jeito. O importante é inundarmos a casa de velas, velas na mesa, velas nos móveis, velas no chão, muitas velas, e claro que a bebida também tem de ser especial, um bom vinho é fundamental, tinto ou branco, mas adequado ao repasto que vamos deglutir.
Claro que deverá haver música ambiente, mas desta vez aquela música de que tanto gostamos e há tanto tempo não ouvimos. Findo o jantar sentemo-nos no sofá, sem ligar a televisão, e deleitemo-nos a ouvir, ainda com todas as velas acesas, a tal música que nos faz vir à lembrança tantos momentos agradáveis que passámos a ouvi-la. O fim de noite de nossa primeira feira fica à vossa descrição eu pela minha parte já sei o que vou fazer.

Resta-me desejar e em jeito de epílogo, que esta seja a primeira, Primeira-Feira, de muitas ao longo da nossa vida.



PS: Este texto é da autoria da minha amiga Isabel Correia.
Força, Isabelita!!!!!

Programa de Festas

Agora já não têm desculpa para terem faltado àquele espectáculo ou àquele evento cultural por falta de informação!
No novo site do amigo Dionísio Leitão podem encontrar, com a qualidade a que sempre nos habituou, notícias dos grandes palcos e não só.
Música; livros; exposições; teatro; poesia e tudo aquilo que, dos chamados “pequenos circuitos”, nos media não passa, aqui podem ser encontrados, com o bom gosto e elevado critério da escolha que este nosso poeta da imagem possui.

Obrigado Dionísio pelo teu Programa de Festas. Programa onde, certamente, não faltará a amizade.


http://programadefestas.wordpress.com/

16 outubro 2007

Lua, precisa-se num céu limpo. Urgente!!!

Há pessoas cujo lema de vida é : não ser feliz e fazer os impossíveis para que os que estão mais próximos não o sejam também.

Essas põem diques nos rios para que eles não corram mais para o mar, tapam a boca a todas as aves do Mundo para que não possamos ouvir o seu cantar e apagam as cores do arco-iris e transformam-no numa mistura de cinzentos. Quando o Sol começa a brilhar tapam-no com enormes nuvens cinzentas e rezam para que todas as noites seja “Lua Nova”.

Depois há as outras, as que lutam com todas as forças para terem aquela coisinha dentro do coração que as faz ultrapassar todos os obstáculos da vida por mais difíceis que sejam, com um sorriso nos lábios umas vezes, outras, com um esgar de sorriso porque os obstáculos são tão gigantescos que não conseguem mais que isso.

Ora estes dois grupos de seres humanos, constantemente se cruzam nesta selva que é a vida e o que é acontece nesta luta constante ?

Respondam vocês, eu posso adiantar-vos que neste momento não consigo seguer fazer um esgar de sorriso, estou a tentar com grande esforço tirar as mordaças aos passaritos, e tenho constantemente os olhos postos no céu, pode ser que consiga ver alguns feixitos luminosos do nosso amigo Sol, mas as nuvens são tão espessas que está muito dificil conseguir vislumbrá-los.

Se estiverem a ver lá em cima, aquela bola redonda muito branca, que parece o rosto de um ser humano, chamem-me por favor, preciso tanto de a ver !!!!!!!

Isabel Correia


PS: Um beijinho, amiga Isabel.