31 agosto 2007

A aposentação de Marte











A aposentação de Marte


A brilhante armadura, agora menos imponente, jazia curvada a um canto da casa, acusando o peso de tantos golpes. Uma arca, de tamanho descomunal, deixava antever pela fresta aberta da tampa, espadas, arcos, maças e outras armas. As paredes, outrora côr de sangue, eram agora de um branco imaculado e trepadeiras verdes abraçavam as colunas dóricas bebendo a frescura da água que jorrava da fonte a seus pés. Harpas e címbalos aos poucos insinuavam-se no éter, fazendo esquecer o som retumbante das lúgubres trompas de guerra.
Toda a casa respirava calma e introspecção. Quem ali entrasse, pela primeira vez, não diria que pisava o chão de Marte. O imortal Senhor da Guerra depusera as armas. Retirara-se dos teatros bélicos cansado de tantas humilhações, vindas sobretudo daqueles que por milénios martirizara. E nem os encantos de Vénus tinham sido tão persuasivos como o motivo que agora o levara ao seu retiro pacifista.
As constantes agressões e demonstrações de poder provinham de um novo deus. Um novo Senhor da Guerra. De aspecto minúsculo e mesquinho. Comandante do maior exército ao cimo da Terra. Poderoso na devastação de nações inteiras. Semeando o caos e a morte entre os da sua espécie. Fomentado o ódio e a discórdia em nome da paz, palavra que lhe saía já morta, da língua viperina.
Marte já nada podia contra a crueldade deste verdadeiro tirano que dava pelo nome de G.W.Bush e tinha pena dos humanos que sofriam o flagelo das suas campanhas.
Era agora um deus com pés de barro, tentando apagar um passado sangrento.
Vivia metido consigo próprio, cultivando o seu jardim, lendo os clássicos. Homero, Virgílio, Hérodoto, Sófocles povoavam-lhe os pensamentos e mais ultimamente apaixonara-se por uma escrita que descobrira num blogue, atravez da Internet, sim porque o Olimpo já tem Banda Larga, o qual se chama: RETALHOS DE UMA QUALQUER VIDA. É uma Nina que escreve maravilhosamente , e que faz frente aos grandes, diz frequentemente com os botões da alva toga. E parece que até temos em comum o facto de virmos do mesmo planeta, continuando para os botões.

Marte, hoje é um velho tonto, que trocou a crueza pela sabedoria. Oxalá a Nina consiga com a sua pena aliviar as penas do velho como alivia as minhas.



Para ti guapita, do fundo do coração.

Diário XI - Minha Sintra, encantada



















A pé, entre a Portela e a Quinta da Regaleira.

Sintra dos poetas, dos amantes, dos músicos, dos loucos da Pena, dos gulosos da Periquita, dos infieis do Castelo, dos fieis dos seus templos, dos profanos das suas pedras antigas.

Sintra, sempre presente, á tua espera, com o raro condão de te fazer feliz quando para ela voltas...

Diário X - Os Norte-Sul na Amarelejinha












E os meu amigos dos Norte-Sul, eternos companheiros de cantigas, estradas, bebedeiras, discussões, mas sempre tão pertos do coração.

Estivemos todos juntos nesta actuação na Amareleja. Talvez uma das mais bem conseguidas deste ano, embora tivesse corrido mal no início, como já é da praxe.

Primeiro a hora escolhida pela organização. 18H00, no Alentejo, em pleno mês de Agosto, a obrigar a uma viajem pela brasa.Era preferível mandarem-nos, todos, pró inferno. estava lá mais fresquinho, com certeza. Depois, chegamos, e o palco encontrava-se vazio, sem equipamento de som algum. Perguntámos quando iria ser montado, responderam-nos que haveria de chegar, a qualquer momento. Estamos no Alentejo, porra! Acabámos por montar o nosso e fazer o som a todos os grupos que lá passaram (nós fomos os últimos, para variar).

É de louvar o esforço e empenho que o António Cachaço demonstra sempre que o nosso técnico de som não nos pode acompanhar. Parecia uma barata tonta a ligar e desligar cabos, mas no final tivemos um som limpinho que até dava gosto!

Depois esta actuação brilhou com a presença de amigos entre o público. O meu colega Helder Fontes, que estava a passar férias naquela localidade, veio fazer-nos companhia com a família. É sempre uma satisfação enorme estar em palco e observar caras conhecidas na plateia. Obrigado Helder pela presença.

Outra estrelinha que brilhou naquele dia foi o facto do Zé Lopes fazer anos.
Já no restaurante onde jantámos foi a loucura total. A cantar os parabéns ao Zé, com todos os presentes em coro, e as modas a sairem, umas atrás das outras, como um rebanho em direcção ao pasto.

O regresso foi um pouco atribulado, fugindo e enganando os geninhos, mas isso são contas de outro rosário.

Diário IX - Ai milonga de amor










Um dia destes, a Rita Caldas convidou-nos a assistir a uma performance, ao ar livre, em pleno Largo do Carmo, em Lisboa.

A surpresa foi muito agradável. Ver uns quantos pares dançar o Tango sem complexos ou artifícios que não o simples prazer de sentir a música e demonstrarem-no numa escrita corporal belíssima.
Adorei o ambiente, as pessoas, sobretudo a felicidade que alguns de nós ainda têm, de fazer o que gostamos.

No final, a mãe da Ritinha veio buscar-me, e à Fátima também, para dançar. Aí é que foi o descalabro total.

Amiga, prometo que ainda farei boa figura a dançar essa sensual dança.

Obrigado a todos pelo momento...

Diário VIII - O Salgueiro, A Manela e a osga Jacinta



















Que belo dia passámos na companhia do Eduardo Salgueiro, da Manela e da osga Jacinta!

Já não tinha dúvidas sobre a generosidade do Salgas. Mas ele, teimoso, insiste (e ainda bem)em confirmar e reconfirmar os laços de amizade que aqui e ali, vai atando, sem interesses escondidos, só pelo prazer de partilhar conversas e acepipes.

Assim, o casal recebeu-nos em sua casa, repleta de coisas boas de comer e de beber, e apresentou-nos o seu animal de estimação: a osga Jacinta que vive no pequeno jardim da sua casa. Apesar de não a termos visto, o Salgas disse que a osga é muito tímida, sai a ele, acreditamos que ela lá estava, comprovada pela recusa da Manela em se aproximar dos vasos.

Connosco estiveram o Marco Ferreira, a Nanda e o Serginho, lindo como nunca.
O tio Charraz, quando não estava a comer e a beber estava-se a babar com o sobrinho Serginho como se pode ver na foto.

Foi um dia óptimo, malgrado das Gambas Grandes serem poucas e só calharem 2 a cada um de nós. Também não gostei muito de ter ficado fechado na casa de banho. Valeu a intervenção profissional do Marco, que lá abriu a porta.

Obrigado amigos, do fundo do coração.

Diário VII - Deslumbramentos
















Dá ou não dá, vontade de voltar?

Diário VI - Algures, entre caipirinhas e Shots















Já deu para perceber que nestas férias o Baco colou-se a nós, fazendo da nossa sombra o seu fresco refúgio, espalhando a sua influente sabederia por estas pobres e sedentas almas. E eu nem me atrevo a comentar, quanto mais mostrar em piores imagens o granel que por vezes se instalou nas hostes.

Mais do que tudo aquilo que foi visto, estes dias marcaram a diferença pela amizade e carinho que se viveu, se partilhou, entre velhos e novos amigos.

Obrigado Charraz, Marta, Bruno, Sofia, Rita, Salgueiro, Manela, Marco, Nanda.
Obrigado, também aos amigos que não poderam estar presentes, fisicamente, mas que andaram, sempre, no nosso coração.

Diário V - O Sacas



















O Sacas é um amigo de longa data, de uma amizade com uma vintena de anos, antigo pescador daqueles mares e que dá o nome a um autêntico paraíso de iguarias gastronómicas que é o seu restaurante, situado a 3,5 Km da Zambujeira, no Porto de Pesca.
Outrora uma casa abarracada feita de madeira e com o telhado de colmo, hoje é um moderno espaço onde nos sentimos confortáveis e onde podemos dar liberdade à nossa gula, tirando a barriguinha de misérias, esquecendo por completo as Dietas 10 e outras castrações urbanas.

Obrigado amigo Sacas pelos momentos de felicidade que me tens proporcionado, ao longo destes anos.

Diário IV - O Café Fresco















O Café Fresco, agora unicamente comandado pela amiga Isabel, é o local mais cool da Zambujeira, e onde se pode ouvir a melhor música das redondezas, não fosse ele ponto de encontro de alguns conhecidos artistas da nossa praça e até de além-fronteira.

E é vermo-nos, ao final do dia, diante dum pôr-do-sol magnífico a retemperar forças e sentidos, a afogar-nos, lentamente, no sagrado graal da cerveja.

Ai que saudades...

Diário III - O caçador de peixes.















Ainda meio desapontado pelo anterior desfecho vejo descer para o pesqueiro onde me encontrava um grupo de rapazes e de raparigas caminhando alegremente, falésia abaixo.
Ao chegarem junto de mim, um deles, talvez o mais velho, saúda-me dando as boas tardes. E num sotaque que percebi ser daquelas paragens, perguntou-me:
- Então amigo, isso tá a dar? Já apanhou alguma coisa?
Eu de semblante carregado respondi-lhe que não. Que tinha deixado fugir uma dourada, das boas, ao que ele retorquiu, até com um pouco de gabarolice:
- Olhe, eu vou caçar o meu jantarinho!
E começou a vestir o fato de mergulho. Armou a espingarda e meteu-se dentro de água, desaparecendo por entre as ondas.
- És mesmo convencido, disse eu comigo.
Continuei na minha pesca, mas não senti mais sinais de peixe, e ao fim de quase uma hora já me preparava para arrumar a tralha quando reparei que o rapaz voltava para terra. Ao longe dir-se-ia que um pequeno Poseidon, com o seu tridente na mão, vinha em peregrinação, carregado de tesouros do seu reino prestar culto a alguma terrena deusa, pois do seu cinto pendiam, brilhantes de vida uma quantidade de peixes.
- Bem, parece que te ajuizei mal, rapaz. Pensei eu.
Preparava-me para subir a falésia quando a Fátima me diz:
- Olha, o rapaz vem na nossa direcção. E com ele traz alguns peixes!
Meia dúzia de passos depois, o rapaz estava à nossa frente.

- Amigo, disse ele. – Nós somos seis pró jantar. Comemos um peixe cada. Como cacei nove, sobram estes três. Será que os querem pra vocês?
E estende-me três belíssimos sargos!
Eu olhei para a Fátima. Olhei para o rapaz. Olhei para os sargos já nas minhas mãos e com uma cara de completa incredulidade disse-lhe que sim, que os queria.
Agradeci. E iniciámos a subida da falésia com o terrível desconforto de trazer no saco o peixe que não pesquei, oferecido por uma pessoa que não conhecia e que na única oportunidade que tivera, julgara mal.
Durante a subida, do meio da rocha onde estava, o rapaz ia-me acenando com a mão, a que eu ia respondendo, como velhos amigos, até que a sua imagem não passava mais do que um ponto negro na paisagem.
Não nos voltámos a encontrar mas creio que não mais esquecerei o seu sorriso confiante, e a lição de humildade deste caçador de peixes.

E é assim, amigo Charraz, que me confesso pecador mentiroso, no momento em que os peixes se encontravam na mesa, ao responder peremptório à tua dúvida, que sim, que os tinha pescado e que não tinha passado pelo mercado na véspera.
Orgulho ferido de pescador. Mas, lá diz o ditado: Mais vale tarde do que nunca!

Diário II - A primeira luta







Como já devem ter percebido, o prazer que tiro do mar e das suas praias resume-se, quase exclusivamente, ás constantes idas à pesca.
Quero aqui dizer que não sou um assíduo e experimentado pescador. É um gosto que me foi transmitido pelo meu pai e que, normalmente, só acontece quando estou em férias.
Encaro a pesca como um exercício de descontracção e de comunhão entre o espírito e a natureza dos locais onde normalmente pesco. Não me vejo a pescar no meio de uma multidão (se não estiver só, não pesco) ou num local onde o mar não me conte uma estória. Por isso, se voltar para casa de saco vazio não é isso que me vai impedir de voltar no dia seguinte. É claro que se o mar for generoso e me presentear com um belo Sargo ou Robalo, o peito, além de inchado com a maresia que a fresca brisa me trouxe, vem repleto de vaidade e de dobrado contentamento, já a pensar em grelhas, carvão e vinho tinto.

Assim aconteceu no primeiro dia em que pesquei nestas férias:

Tínhamos apanhado a tiagem (minhocas que vivem enterradas na areia, normalmente debaixo das rochas, e que são o meu isco preferido) na manhã desse dia.
Depois do almoço na Ti Vitória combinámos, eu e a Fátima, inaugurarmos oficialmente a época da pesca, e fomos para a laginha, que é um pesqueiro de fácil acesso, onde se está à vontade e sem cuidados de maior, próprio para o acostumar dos músculos aos mais difíceis pesqueiros.
Depois de armado o equipamento faço o lançamento para o mar. Confesso que estava um pouco ansioso, seria que este ano era ano de encher o frigorífico?
Passaram-se uns bons quinze minutos e nada. Não. O peixe não picava. Vamos acreditar que o cardume da abundância estaria a chegar a qualquer momento, e que mais tarde ou mais cedo acabaria por sacar uma escama.
Estava perdido nestas minhas conjecturas quando de repente, a cana vergou a ponta, num inusitado esticão em direcção à água, como se, ela própria, fosse criatura de mar, e que em cima daquele rochedo agonizasse, fora do seu meio.
Eu começo a recuperar a linha, e pela luta que o peixe estava a dar, percebi que era um dos grandes que tinha ferrado. Ao fim de algum tempo começo a ver a silhueta dele, brilhando na superfície das águas claras. Era uma dourada. Grande, como nunca tinha apanhado nenhuma. Era o que na gíria se chama uma tábua. Devia de ter à volta de 3 quilos. A adrenalina corria-me à solta nas veias fazendo-me tremer de excitação. Já só o queria ver pendurado na linha, a subir, vencendo o espaço que o separava de mim.
Até que, no momento em que a sua cabeça saiu fora da água, desferiu um desesperado golpe, arqueou o corpo, e como um silvo de chicote a linha partiu libertando o meu breve prisioneiro. A luta tinha chegado ao fim e o derrotado era eu que incrédulo olhava a linha abandonada ao vento, na ponta da cana.

Diário I















No princípio era a Música – Sines, Festival de Músicas do Mundo.

- Momentos bons:


Um fim-de-semana na companhia do Rogério Charraz, a Marta e o Bruno e claro da minha Fátinha. Belos mergulhos nas Praias da Costa; Comezainas com o sabor a mar; Noitada a curtir boa música.

- Momentos bonzinhos:

A fila de trânsito para sair da praia; as ressacas; os massacres Rogérianos.

Zambujeira.

- Momentos bons:


O matar de saudades do mar, do murmúrio das ondas ao desfalecerem na praia; os passeios pelas falésias perfumadas por meladas estevas; do pôr-do-sol; da pesca, da gastronomia; dos amigos locais; dos novos amigos.

- Momentos bonzinhos:

Os dias que não fui à pesca; os dias que só fui à praia; as ressacas (que me perseguiram, tenazmente).

De volta



Eis-me de volta, depois de umas belas férias na Costa Vicentina, mais propriamente na Zambujeira do Mar, que apesar de já não ser o paraíso de outrora, ainda mantém a beleza e a magia que me faz lá voltar ano após ano.

Sem me querer tornar aborrecido vou tentar fazer um breve diário do que foram estas férias, até porque se não o fizesse seria crucificado pela alcateia bloguiana.

Deixo aqui breves imagens que, apesar de tudo, permanecem indeléveis nas memórias mais voláteis desses dias claros, de praia e pesca, de comes e bebes, quase sempre na companhia de velhos, mas também de novos amigos.