22 outubro 2007

Assim, não há nuvens que resistam!


Claro que todos nós já sentimos na pele, várias vezes na vida se tivermos sorte, e todas as segundas feiras se formos menos afortunados, o chamado “sindroma de segunda-feira”. Ora se pararmos um bocadito para pensar, a própria palavra ” segunda “ feira, desperta no nosso subconsciente uma certa relutância, porque durante toda a nossa vida aprendemos que o que não é de primeira é porque é de segunda. Logo proponho desde já, que o dia a seguir ao domingo, e antes de terça-feira, se passe a chamar “primeira feira”.

Agora que melhorámos o nome deste nosso problema semanal, passemos a melhorar o próprio dia em si.
Comecemos pela manhã, porque é pela manhã que se começa o dia, levantemo-nos então dos nossos leitos a pensar : que dia é hoje? ah, é verdade, hoje é primeira-feira! (mas atenção isto deve ser pensado com um sorriso nos lábios).
Passemos agora à nossa higiene diária, que deverá ser acompanhada por música. Levemos então o “cantante” para a casa de banho, e ponhamos a tocar no dito, uma ária de ópera, não interessa qual, mas é ponto assente que seja uma ária de ópera. Já dentro do banheira (ou da cabine de duche, porque neste caso tanto faz), fechemos os olhos e enquanto nos ensaboamos tentemos abstrair-nos de tudo o resto e sentir apenas os acordes da música... já estamos a melhorar, certo? Agora que o nosso astral já se elevou um bocadito, munamo-nos de uma tesoura e abandonemos o nosso doce lar.
De certeza que nas imediações da nossa humilde casita, haverá um jardim, um muro, qualquer coisa onde exista uma flor, não interessa o tipo de flor, todos nós sabemos que uma flor é uma flor, cortemo-la então, e dirijamo-nos para a nossa viatura. Claro que iremos apanhar muito trânsito até chegarmos ao nosso destino (para todos os outros seres humanos hoje é segunda-feira), mas o que é que isso interessa? Já pensaram que há locais bem piores para estar que o aconchego do nosso veículo? pensem só que em vez de estarem confortavelmente instalados no vosso “carrito” poderiam estar sei lá. num pântano cheio de crocodilos, ou a tomar banho num rio onde alguma fábrica tivesse feito uma descarga poluente, ou ... , há tantos sítios maus por ai.... Congratulemo-nos então com a nossa imensa sorte.

Chegados ao local de trabalho, cumprimentemos os nosso colegas. O cumprimento deverá ser adequado a uma primeira feira, qualquer coisa como “Muito bom dia caros colegas, como estão todos?” Haverão alguns que nem sequer nos respondem, outros dirão “estás muito bem disposto(a) hoje para uma segunda feira “, não liguemos a provocações, porque todos eles mais tarde ou mais cedo, nos irão implorar para partilharmos o segredo da boa disposição que conseguimos ter todas as primeiras/segundas feiras. A flor que cortámos quando saímos de casa, irá agora ter o seu protagonismo, devemos colocá-la em cima da secretária, em sítio bem visível, para que não nos esqueçamos de olhar para ela.

Chegou finalmente a hora de almoço, nada de ir comer ao restaurante do costume, ou no refeitório da Empresa. Primeira feira é dia de piquenique.
Teremos então de nos dirigir ao jardim ou parque mais próximo do nosso local de trabalho (todos nós sabemos que coisa que prolifera no nosso país são espaços verdes, portanto não vai ser difícil encontrar um) e ai tirarmos da marmita o arroz de tomate com jaquinzinhos fritos que trouxemos de casa, e que afortunadamente poderemos partilhar com as formigas e passaritos que encontrarmos nas redondezas. Bem dispostos retomaremos então o trabalho com aquele sorriso de primeira feira que só nós podemos ter.

Hora de regressar ao “doce lar”. Que pena temos de abandonar a florzita em cima da secretária, mas não faz mal, ela amanhã continuará no mesmo sitio e nós poderemos voltar a vê-la.
Chegámos agora à parte mais importante do nosso dia. Se fizerem questão de serem vocês próprios a confeccionar o jantar, estão à vontade, mas eu aconselhava a comer os restos do fim de semana, ou comprar qualquer coisita já feita, um sushi, um menu BigMac, uma pizza, ou aquilo que vos der mais jeito. O importante é inundarmos a casa de velas, velas na mesa, velas nos móveis, velas no chão, muitas velas, e claro que a bebida também tem de ser especial, um bom vinho é fundamental, tinto ou branco, mas adequado ao repasto que vamos deglutir.
Claro que deverá haver música ambiente, mas desta vez aquela música de que tanto gostamos e há tanto tempo não ouvimos. Findo o jantar sentemo-nos no sofá, sem ligar a televisão, e deleitemo-nos a ouvir, ainda com todas as velas acesas, a tal música que nos faz vir à lembrança tantos momentos agradáveis que passámos a ouvi-la. O fim de noite de nossa primeira feira fica à vossa descrição eu pela minha parte já sei o que vou fazer.

Resta-me desejar e em jeito de epílogo, que esta seja a primeira, Primeira-Feira, de muitas ao longo da nossa vida.



PS: Este texto é da autoria da minha amiga Isabel Correia.
Força, Isabelita!!!!!

2 comentários:

Anónimo disse...

Este texto da Isabel Correia, pela sua qualidade e imaginação, é realmente digno de figurar no teu blog a par de outros igualmente muito bem escritos...
Ó Zé, desculpa lá a minha sugestão, mas porque é que tu não "obrigas" esta tua amiga (entre outras), através de um convite muito directo, a colaborar neste espaço, com a regularidade de (no mínimo) um texto por mês?!
Não quero com isto dizer que tu não possuas inspiração que baste ou assunto de sobra para trazer aqui, digo sim que seria uma forma de aumentar um pouco mais o teu tempo disponível, mantendo simultaneamente a qualidade e o pluralismo de ideias e ideais...

Um abraço do

Zé Lopes

zmsantos disse...

Amigo Zé Lopes, e o que eu a tenho massacrado para que participe com os seus escritos?
Quem conhece a Isabel Correia sabe do ser humano belo e sensível que ela é.
É sempre com alegria que recebo textos (ou outros) dos meus amigos para publicar aqui no 'barraco'

Por timidez ou falta de tempo eles não aparecem, tanto como eu desejaria. E por falar nisso, quando é que tenho o prazer de publicar umas 'coisinhas' tuas?

Penso que está mais que na hora, não?

Abraço.