28 setembro 2009

Para uma amiga.

Eu sei, não te conheço, mas existes ...

Eu sei, não te conheço mas existes.
por isso os deuses não existem,
a solidão não existe
e apenas me dói a tua ausência
como uma fogueira
ou um grito.

Não me perguntes como mas ainda me lembro
quando no outono cresceram no teu peito
duas alegres laranjas que eu apertei nas minhas mãos
e perfumaram depois a minha boca.

Eu sei, não digas, deixa-me inventar-te.
não é um sonho, juro, são apenas as minhas mãos
sobre a tua nudez
como uma sombra no deserto.
É apenas este rio que me percorre há muito e desagua em ti,
Porque tu és o mar que acolhe os meus destroços.
É apenas uma tristeza inadiável, uma outra maneira de habitares
Em todas as palavras do meu canto.

Tenho construído o teu nome com todas as coisas.
tenho feito amor de muitas maneiras,
docemente,
lentamente
desesperadamente
à tua procura, sempre á tua procura
até me dar conta que estás em mim,
que em mim devo procurar-te,
e tu apenas existes porque eu existo
e eu não estou só contigo
mas é contigo que eu quero ficar só
porque é a ti,
a ti que eu amo.

Joaquim Pessoa

1 comentário:

Maria disse...

Quantos anos depois deixam de doer as ausências?
Quanto tempo depois deixamos de sentir este nó que tenho, exactamente agora, na garganta?
Quanto futuro é preciso esperar e viver para que a solidão doída da ausência se transforme apenas numa lembrança doce?

O Joaquim Pessoa é um dos meus poetas preferidos. Gostei tanto de o ler aqui...

Obrigada, ZM
Beijos, também com saudades de TU