24 janeiro 2007

Cassiopeia



Uma quente brisa soprava àquela hora da noite, evaporando a água que restava no cabelo, depois do banho da meia-noite. Entre o meu corpo, deitado no saco de cama e a caprichosa Via Láctea vai uma linha recta, um estender de braço, um sopro na vela do sonho viajeiro.

Passaram mais de trinta anos. Fazíamos dos areais da Fonte-da-Telha a nossa tribuna onde se discutiam ideias, se arquitectavam sonhos e projectos, onde se interrogavam os sentidos da vida e da morte. De dia, era futebol e banhos no mar azul. Á noite convocávamos os espíritos libertários que nos acompanhariam em dissertações filosóficas. Á luz de uma fogueira tocávamos guitarras, em canções infinitas de liberdade e rebeldia de quem tem uns eternos dezoito anos.
No céu estrelado, qual marca de um Zorro invisível, o W inequívoco da Cassiopeia velava o sono breve.

Passaram mais de trinta anos. As perguntas permanecem, quase todas de respostas ignoradas. Os sonhos morreram ou estão moribundos. A Cassiopeia, se ainda lá se encontra, está cada vez mais pálida, e até as dunas da Fonte-da-Telha estão a desaparecer...

6 comentários:

Anónimo disse...

Bela maneira de desviar a atenção do que foi escrito atrás.

Ai, ai, ai, menino Zézinho !

Mas, se me permites, eu gostaria de acrescentar, que podemos sempre continuar a tocar canções infinitas de liberdade e rebeldia, não podemos nunca deixar os sonhos morrer, mesmo que sonhemos sózinhos. Os sonhos fazem parte integrante de nós próprios. Proponho, numa noite de luar, irmos
até à Fonte da Telha ... e falar com o mar...
Talvez assim as dunas voltem a aparecer, como que por magia.

Isabel Correia

Anónimo disse...

Uma palavra, um gesto, um olhar, um sorriso, tudo o que possa inventar jamais poderão traduzir a gratidão e amizade que tenho por ti. Apesar de ser carrancuda, fechada, reservada, ter mau feitio, ser compelxa... não sei porquê sempre acreditaste que por detrás de tudo isto até havia uma pessoa razoável, fixe, risonha, brincalhona e verdadeira... sabes Zeómetro, tu e a Fátima são parte do muito especial que tenho cá dentro. às vezes demasiado dentro... tão dentro que posso correr o risco de voçês acharem que nem sempre vos "ligo". MENTIRA! O meu pensamento passa por ti e por ela muito mais vezes do que voçês podssam imaginar... Um grande bem haja a ti, a quem te pôs no mundo e a essa existência linda que tens vindo a construir entre todos nós!

Parabéns, muitos parabéns caraças!

FátimaG.

Unknown disse...

Zé Manel do que nos conhecemos quer através deste mundo virtual quer das vezes que nos encontramos por aí (os Boémia têm muita culpa desses encontros :) ) tenho aprendido a gostar da tua maneira de ser discreta, séria e amiga. Fica aqui um grande abraço de parabéns e que nunca esqueças a magia dessas noites que passavas. Cuida da que tens dentro de ti, porque a tens, e... "bute lá" porque para a frente é que é caminho e tristezas não pagam dívidas.

Uma vida qualquer disse...

E relembrei noites assim, na mesma praia, com praticamente a mesma idade, sem Cassiopeia avistada, no entanto, que a arte de reconhecer estrelas nunca a assimilei.
Há perguntas que devem permanecer sem respostas e sonhos que morrem porque outros nascem. Procurarei a Cassiopeia quando lá voltar e despejarei um balde de areia para recuperar as dunas.
Besos
(Belo presente que nos ofereceste, esta Cassiopeia)

Uma vida qualquer disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Micas disse...

Mesmo que tudo esteja alterado, não esqueças nunca a magia desse tempo...

Beijinho