21 outubro 2008

3.000 Km e 2 anos depois

Fez em Agosto passado dois anos que estivemos de ferias em Cabo Verde. Foi uma viagem que me ficou na memória e no coração. Do povo cabo-verdiano guardo a gentileza e o carinho com que me receberam e de vez em quando dou por mim relembrando caras, nomes, histórias, cores e sabores daquelas ilhas de morabeza.
De tal forma que ainda no Domingo, eu e a Fátima víamos fotografias que de lá trouxemos. Memórias que o olhar relembra e que o peito guarda de forma indelével.
Fizemos amigos. Sobretudo os guias que nos acompanharam durante a estadia.
O Zezinho, o Morais, o Ivanildo, o Ima.

Não resisto a deixar aqui, de novo, o que na altura escrevi e que se refere ao Zezinho, o nosso guia na cidade da Praia.

----------------------------------------------------------------
O Zezinho
Oi! Bom dia! Tudo bem? Como vai?


Um aceno, um sorriso, o telefone que não para de tocar. Uma paragem no caminho para desentorpecer as pernas e para dar boleia a alguem conhecido (os transportes públicos são muitos deficitários em C.Verde, e fora das principais cidades, inexistentes).
De novo mais cumprimentos, saudações – N’hô Mané, como passa?
É um nunca mais acabar de conhecimentos, amigos e família deste verdadeiro “Papa de Santiago” O Zezinho é natural do Fogo e veio para Santiago aínda muito criança. Hoje mereçe o respeito de todos, conquistado pela sua singular bondade, quer na capital quer nas vilas do interior onde conhece, literalmente, todo o mundo.

Foi o nosso guia-amigo na ilha.
Uma vêz, a caminho da Cidade Velha, passámos pela carcaça abandonada de um carro, e que servia de morada a um macaco – Cabo Verde tem macacos em liberdade. Alguns são capturados e exibidos como animais de estimação – o Zezinho volta-se para o grupo e diz:
- Agora vou cumprimentar um velho conhecido.
E quando o auto-carro passa pelo macaco, o Zezinho estica o braço para fora da janela e saúda o bicho. Então, para espanto de todos, o animal retribui o gesto, levantando o braço de igual forma.
Foi gargalhada geral!

A viagem começara com alguma apreensão. Não só pela estreita estrada (?) de montanha que percorriamos, mas também pelo roncar do motor da viatura que, qual fumador atacado pelo catarro, expelia continuas baforadas de fumo negro. Aproveitando uma ligeira descida, meio receoso, meio a brincar, pergunto-lhe:
- Zezinho, este carro tem revisão?
Ele olha-me serenamente com um sorriso e pisa o travão fazendo imobilizar o carro com uma chiadeira infernal.
- Não há problema, agora já tem máquina de revisionar viaturas. Se a máquina estiver boa, a revisão também está!

Com um humor só proporcional à sua bondade o Zezinho descreve-nos a sua terra, as suas gentes. Histórias do passado, histórias que serão de esperança num futuro ansiado por quem pouco tem de seu, e por ter pouco a perder se lança numa desigual luta contra a adversividade.

- Aqui, à esquerda, é o Palácio da Justiça. Foi feito pelos chineses e entregue ao Governo de Cabo Verde. Andamos mais uns metros, e ele continua:
- Além, à direita, é o Palácio do Governo. Foi feito pelos chineses, sem qualquer encargo para o Governo de Cabo Verde. Mais adiante, continua:
- Aqui temos o Centro de Congressos. Foi feito pelos chineses, também.

Chegados à Cidade Velha, defronte das antigas muralhas de uma construção militar, diz o Zezinho:
- Aqui é o Forte de São Filipe, construido pelos portugueses nos finais do Sec XVI. Ainda hoje os chineses andam amarelos de raiva por não o terem construido!

Obrigado Zezinho por nos revelares a grandeza de Cabo Verde.
-----------------------------------------------------------------

Ontém, ao final da tarde, estava eu a abastecer de gasolina no posto lá do meu bairro, não é que vejo um homem dirigir-se a mim, de braços abertos, já a ensaiar o esperado abraço.

Era o Zezinho. Está em Portugal a passar as suas férias.
Depois dos abraços vieram as lágrimas, os risos, de novo as memórias...
Trocámos os números de telefone. Trocámos a promessa de que não partirá para Cabo Verde sem deixar que eu retribua tudo o que me deu, há dois anos e a 3.000 Km de distância, naquelas ilhas de gente gentil...

7 comentários:

MisteriosaLua disse...

Razão tem a outra, quando diz que não há coincidências!...
Besitos

Maria disse...

Mal posso imaginar a emoção desse reencontro...
Quanta ternura no teu post...

Beijinho
(tb à Fátima)

Zé dos Anzóis disse...

Amigo nem imaginas como morro de saudades da minha guia nas últimas férias na Bulgária e como lhe queria dar um abraço bem apertado.
Infelizmente não é para todos...
Abraço
Za

Cravo a Canela disse...

Já sabes, se lhe quiseres dar música...

Leticia Gabian disse...

"... gente é pra brilhar, não pra morrer de fome..." Palavras de caetano veloso.

Tu és muito gente ZM... A Fátima e o Zezinho também. Gente assim, brilha, resplandece!

Beijos nos corações

zmsantos disse...

Lua

Cada vez acredito menos em coincidências.

Maria

Nunca levei um tiro (felismente) mas acho que foi o que senti. Só que foi um tiro de prazer e muito carinho, porque o Zezinho é muito especial para nós.


Za

Filho, não conheçi a tua guia na Bulgária, mas se tu o dizes, também lhe dava um abracinho...


Roger


Estou a torcer para o poder levar à Taverna, quando tu lá estiveres, amigão.


Letícia

Vamos falar de brilho? Então tu és o Sol, amiga.

Beijos e abraços.

日月神教-任我行 disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.