04 setembro 2006

O Zezinho

Oi! Bom dia! Tudo bem? Como vai?

Um aceno, um sorriso, o telefone que não para de tocar. Uma paragem no caminho para desentorpecer as pernas e para dar boleia a alguem conhecido (os transportes públicos são muitos deficitários em C.Verde, e fora das principais cidades, enexistentes). De novo mais cumprimentos, saudações – N’hô Mané, como passa?
É um nunca mais acabar de conhecimentos, amigos e família deste verdadeiro “Papa de Santiago”
O Zezinho é natural do Fogo e veio para Santiago aínda muito criança. Hoje mereçe o respeito de todos, conquistado pela sua singular bondade, quer na capital quer nas vilas do interior onde conhece, literalmente, todo o mundo. Foi o nosso guia-amigo na ilha.

Uma vêz, a caminho da Cidade Velha, passámos pela carcaça abandonada de um carro, e que servia de morada a um macaco – Cabo Verde tem macacos em liberdade. Alguns são capturados e exibidos como animais de estimação – o Zezinho volta-se para o grupo e diz:
- Agora vou cumprimentar um velho conhecido.
E quando o carro passa pelo macaco, o Zezinho estica o braço para fora da janela e saúda o bicho. Então, para espanto de todos, o animal retribui o gesto, levantando o braço de igual forma. Foi gargalhada geral!

A viagem começara com alguma apreensão. Não só pela estreita estrada (?) de montanha que percorriamos, mas também pelo roncar do motor da viatura que, qual fumador atacado pelo catarro, expelia continuas baforadas de fumo negro. Aproveitando uma ligeira descida, meio receoso, meio a brincar, pergunto-lhe:
- Zezinho, este carro tem revisão?
Ele olha-me serenamente com um sorriso e pisa o travão fazendo imobilizar o carro com uma chiadeira infernal.
- Não há problema, agora já tem máquina de revisionar viaturas. Se a máquina estiver boa, a revisão também está!

Com um humor só proporcional à sua bondade o Zezinho descreve-nos a sua terra, as suas gentes. Histórias do passado, histórias que serão de esperança num futuro ansiado por quem pouco tem de seu, e por ter pouco a perder se lança numa desigual luta contra a adversividade.
- Aqui, à esquerda, é o Palácio da Justiça. Foi feito pelos chineses e entregue ao Governo de Cabo Verde.
Andamos mais uns metros, e ele continua:
- Além, à direita, é o Palácio do Governo. Foi feito pelos chineses, sem qualquer encargo para o Governo de Cabo Verde. Mais adiante, continua:
- Aqui temos o Centro de Congressos. Foi feito pelos chineses, também.
Chegados à Cidade Velha, defronte das antigas muralhas de uma construção militar, diz o Zezinho:
- Aqui é o Forte de São Filipe, construido pelos portugueses nos finais do Sec XVI. Ainda hoje os chineses andam amarelos de raiva por não o terem construido!

Obrigado Zezinho por nos revelares a grandeza de Cabo Verde.

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