19 maio 2006

Ausência

do Lat. absentia


s. f.,
afastamento de pessoa, animal, etc. do lugar em que deveria estar;

falta de comparência ou de assistência;

a não existência.


fam.,
fazer boas -s: dizer bem de quem não está presente;

fazer más -s: dizer mal de quem não está presente.

(Dicionário On-line Priberam)


humildade, verticalidade, reconhecimento das nossas fraquezas, acreditar no amor e na vida.

(Digo eu...)

15 comentários:

Cravo a Canela disse...

Estou sem palavras.

Obrigado.

Rogério Charraz

Anónimo disse...

Boa.
Obrigado.
Aquele abraço.


O sapito.

Anónimo disse...

Diria mais... (porque costumam dizer que não sinto e apenas penso)

...Ausência...presença muito intensa de vazio, de falta, do espaço ocupado, do braço entrelaçado, do olhar que me olhava, da voz que me falava, do riso que me dava, na palavra que nunca acabava, nem com o som do despertar e da música que nos acompanhava... e vem a saudade...tanta saudade!

Claro, primeiro é um grande desconforto, um grande mau jeito que me causa o hábito adquirido de te ver, de te ter... e que vou ter que perder, esquecer e colocar outro qualquer hábito em teu lugar...

E depois e ainda e mais saudade que o tempo parece aumentar porque o dia é um percorrer da lembrança que os meses não apagam e os anos guardam em qualquer lugar para que não tenha que me lembrar do vazio atroz em que percebo a realidade de não estares, não seres, não ficares... e no fim o nada.

Naia Castro

... a porta por onde alguém entrou, o sorriso que trazia, a expressão do olhar, os gestos com que nos habituou, a voz gravada na memória, o cheiro, a descoberto, na pela...

...não vem, não está,

Anónimo disse...

Ausência é ainda o vazio que fica de uma presença faltosa!
- Sem medo!

zmsantos disse...

Uau!!!! Naia!!!!!! Agora esteve muito bem! Parece que a nossa guerrilha está a dar alguns frutos!

Ou será, apenas, a indivisível certeza que afinal não passamos de ser humanos, imperfeitos, inacabados, por vezes tão crueis, mas com esta capacidade de sonhar com a felicidade, também dos outros?


PS - Estives com os lírios. Pediram-me para lhe dar os seus mais respeitosos cumprimentos...

Anónimo disse...

Sr Perdigão,

(não perdoa uma...e acaba sempre por me provocar, no bom sentido e com muito entusiasmo da minha parte)

Não há qualquer imperfeição em nós na concepção nem nos meios à disposição.

Há sim toda uma grande confusão entre o ser, o estar e as aptidões... porque todos nos convencemos daquilo que somos...

As pessoas acham que são porque estão.

Estar é uma coisa, ser é outra...

E muitos há que cá estão e não são nada...

Estar é existir.

Existir é ser vivo.

Ser vivo é ter aptidões.

Ter aptidões é procurar o ser...

As aptidões é que nos fazem sentir e os lírios não lhe disseram nada.

O Sr Perdigão é que é tem uma grande busca e uma grande aptidão para Ser e por isso consegue ouvir os lírios e entender o Nada e a Falta de que Naia Castro lhe fala.

Para os católicos antes de tudo era o Verbo, para os existencialistas, etc, etc, já se sabe...

...farto-me é de rir quando os biologos chutam com as provas da genética e das composições bioquimicas dos organismos... para as aptidões humanas... por exemplo as auditivas, as olfactivas, as desportivas, as literárias, emocionais, cognitivas.... e ainda me dá mais vontade de rir porque, como quem não quer a coisa, até conseguem apresentar dados e explicar porquê que uns compõem, outros escrevem, outros são engenheiros, médicos e outros falam com lítios... e até lhe diria porquê que sinto tanta falta, tanta saudade e tanto nada em mim, mas estaria a entrar num assunto que como já deve ter percebido guardo só para mim e a minha história bioquimica : )) é um assunto privado.

Agradeço
Naia castro

Anónimo disse...

Sr Perdigão,

Parece que ganháqmos um(a) amigo(a)... sem medo... apenas gostaria de lhe dizer que as "presenças faltosas" são as que não existem, são as que fazem ou fizeram parte do mundo das possibilidades, porque diz o povo e com razão quem não está, que estivesse e quem não vem não faz falta.

É ou não assim? Porquê o sebastianismo? A que é que nos leva? ....

Há quem diga que reside aí a origem da palavra saudade, até porque não tem grande tradução semântica noutra qualquer língua do mundo. Os ingleses dizem Miss You e querem dizer sinto a tua falta, os franceses dizem J'ai besoin de toi, que quer dizer mais ou menos a mesma coisa mas no sentido de "preciso de ti"...Isto só para citar as mais internacionais das línguas. Porque "Saudade" é um termo carregado de significado que só portugueses usam e mal conseguem explicar o que significa...

Será que D. Sebastião é assim tão desejado, ainda? E porquê que quem não está nos faz falta?

Naia Castro

Anónimo disse...

Desculpe senhor Perdigão mas o tremor das palavras de Naia Castro...

Caro(a) Naia,
fico sentido com vosso leveza de estar, porque creio que no ser é mais contido(a).

Mas...
Neste dia de sol aberto e longo
falta não sinto
de sol aberto e longo.
Olho o horizonte e os navios
sem querer recuperar
o dia de ontem chuvoso
mas...
A terra precisa de humidade!
Não a de ontem, eu sei, mas como
o Sol de Angola,
que na memória seja,
ainda queima!


Um sorriso, e grato por este pátio de alegria.
-Sem medo!

Anónimo disse...

Sr Perdigão,

O(a) nosso(a) amigo(a) (diz) não ter medo e quase tenho a certeza que ousa também ouvir os lírios. Na procura do Ser, olha o horizonte, vê que os navios partem. Vê que são navios apenas enquanto os olha. Quando partem fica a lembrança deles. Na realidade, fica apenas a diferença do azul do mar no azul do céu. Do estado liquido do gasoso. Do azul que vemos apenas porque o sol o permite e que muda ténue ao longo do dia até ao roxo e ao negro da noite.

Reflexos são tudo o que temos.

Experiências são tudo o que existe e em que nós Estamos. Circunstâncias são os navios que passam. Se não embarcamos não Somos tripulantes... é a diferença entre Ser e Estar. Ténue. Leve. Mas decisiva.

A memória é que nos dá suporte para a concepção e para todas as “coisas” aí residentes. Não podemos ficar “sentidos” com a memória ... é aí que começa o Ser... e se é o Ser que procuramos então até eu ouço os lírios, até nos campos encontro a Liberdade... e nada me aprisiona, nada me pesa, nada me falta.... o Ser é a possibilidade!

Agradeço e retribuo o sorriso que é a mais bonita expressão de um rosto,

Naia Castro

zmsantos disse...

Valham-me todos os deuses, até os do inferno!

Anónimo disse...

Sr Perdigão,

Os deuses são como as alegorias (da caverna) - só existem no escuro e quando troveja. Santa Bárbara lhe dê muita paciência e muitas benções pela risada que provocou em mim.

NaiaC.

Anónimo disse...
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Anónimo disse...

Sr Perdigão,

Anda a lêr "Em busca do sentido da vida?" E logo com Kafka... vai ver que a vida não tem sentido nenhum e vai sentir Ausência e falta... Tudo é ausência, tudo é falta, tudo é vazio, tudo é nada. Só a existência permite o preenchimento, quanto mais não seja físico. Há-se ler Caeiro e Álvaro de Campos e verá que "O único sentido da vida é a vida não ter sentido nenhum".

Há muito que não nos falamos... já sinto a sua falta (também). Quero apenas desejar-lhe um fim de semana sem sentido nenhum e com muito espaço preenchido.. mais uma vez lhe digo - vá à rua, olhe o sol, olhe o céu, o que está, o que existe e o que é o "espaço" sem vazios, sem faltas, não sinta, senão baralha tudo e ainda me vem dizer que me mandaram cumprimentos no fim de semana...

Agradeço e tenha uma vida sem sentido, pelo menos este fim de semana, mas repleta e cheia... de espaço.

Naia Castro

Anónimo disse...

Sr Perdigão,

Já algum dia se engasgou? Mesmo a sério? É uma sensação horrorosa. De cortar a respiração. De aflição. Pode-se morrer assim. É uma luta para deitar para fora o que está preso na garganta e que nos atrofia os pulmões. É indescritível. Só mesmo quem tenha passado por essa situação consegue perceber o perigo eminente e a aflição por que se passa. Depois fica ainda aquela tosse compulsiva que nos arranha o interior todo... Não é que me tenha engasgado... na realidade. É que hoje sinto um nó na garganta... e não sai nada. Nem morro, nem respiro.

Sr Perdigão,

Já algum dia teve uma peça de cristal na mão? Sabe aquela sensação que este material nos transmite? Basta uma ligeira pressão, nem é preciso ter força e plim plim plim... era uma vez. O cristal é um material “Frágil e “Hoje estou tão frágil”.... O vento parece demasiado forte, a luz parece muito clara, nem os óculos escuros servem, só me apetece fechar os olhos, os sons estão demasiado altos, qualquer música que ouço me parece um exagero, ou porque os graves são muito fortes ou porque os agudos são muito estridentes... Tudo me parece um excesso e uma falta imensa, ao mesmo tempo e sem tréguas.

Sr Perdigão,

Já algum dia disse a alguém o que sentia? Verdadeiramente o que sentia? Consegue imaginar alguém que não diga o que sente? Seja o que for? Sabe o que é guardar os sentimentos só para si?

Sabe o que é dizer apenas bom dia, quando na verdade apetece dizer, que saudades tive de ti? Sabe o que é um amigo deixar-lhe a mais bela biblioteca de música e não conseguir exprimir o sentimento de verdadeiro apreço e deixar apenas um agradecimento educado? Sabe o que é sentir sem saber exprimir, nem amor, nem amizade?

Será porque apenas existo?

Agradeço, sei que não me vai responder, porque estas perguntas não têm resposta, mas agradeço, porque estou aqui.

Naia Castro

Anónimo disse...

Sr Perdigão,


Hoje gostaria de lhe falar de trivialidades... de coisas ditas “normais”... do dia-a-dia, compreende? De coisas a que ninguém dá importância, em que ninguém repara e que normalmente tropeçam sempre à frente do nosso nariz ... e não as vemos...

1ª Trivialidade

Há uns tempos uma colega de trabalho dirigiu-se a mim porque precisava de uma informação e começou:
- “Olhe desculpe, eu...”
Não a deixei continuar e perguntei:
- “Desculpo” do quê?
Perplexa e olhos nos olhos com aquela forma incisiva que tenho de travar as pessoas, respondeu:
- Desculpe, de nada, é uma forma de falar.
Ao que eu respondi:
- “Pois, é que quando se pede desculpa deveria ser por qualquer coisa que se faz, mas então diga lá o que quer.”
- “Sabe eu precisava de uma informação e sei que não é a si que devia perguntar, mas”...
Interrompi-a novamente:
- “Se não é a mim que deve perguntar, não pergunte”.
Cada vez mais atrapalhada, respondeu:
- “Bem, não era nada disto que eu queria dizer”
Tive que interromper, de novo e com voz autoritária mas a sorrir respondi-lhe:
- “Oh mulher! Vá directa ao assunto e diga o que quer, sem pedir desculpa, sem dizer que não devia dizer!”
Sorriu, respirou de alívio e sem rodeios foi directa ao assunto, disse o que realmente queria dizer, dei-lhe a informação, agradecemo-nos mutuamente e ela foi-se embora.

(É tão mais fácil, tão mais simples quando dizemos o que queremos, quando somos autênticos... detesto tretas! Não me venham com tretas! Parem de usar o “desculpe” para tudo e para nada! Parem de usar frases feitas para aplicar sem sentido nenhum!)

2ª Trivialidade

Com alguma regularidade tenho reuniões de trabalho. Mesas c/ blocos, canetas, águas, tudo a rigor. Habituei-me a reparar que no final das reuniões a maior parte das pessoas deixa as garrafas de água, ainda com água e estas teêm que ser deitadas fora. Normalmente sou a única pessoa que leva a garrafa consigo, quando ainda tem água e a consome até estar vazia.

(Habituei-me a reparar porque faz uns anos que vi um programa sobre os recursos naturais do planeta....O degelo das calotes, o aumento das temperaturas, a falha tectónica que percorre o planeta e teima em avançar e dá a ideia que nos há-de separar, daqui a uns milhões de anos em duas partes, uma para Norte e outra para Sul, a devastação da amazónia em troca do vil metal, o Kilimanjaro a ficar careca, o aumento de tempestades de areia – ai o Sahara, tão longe e cada vez mais perto – enfim, um sem número de coisas que me fazem sentir a vida tão breve, tão especial e tão estúpida.... sabe porquê Sr Perdigão? Porquê que passei a olhar as garrafas de água no final das reuniões? Porque nesse programa diziam que, em média, na Índia, morre uma criança por dia, com sede. Mais palavras? Mais trivialidades? Pois bem!)

3ª Trivialidade

Faço parte do povo. Do povo real (e com muito orgulho!). Mas há que definir de que “Povo” estou a falar: do povo que sai cedo e volta tarde, do povo que tem prestação no final do mês, do povo que se debate com um lugar, no fim do dia para arrumar o carro na chamada AML (adoro estas siglas – Área Metropolitana de Lisboa!). Esclarecido o conceito de povo (eu e os conceitos!), a 3ª trivialidade é sobre a atitude no arrumanço dos carros . Tenho uma postura muito crítica e pela segunda vez me orgulho da minha pessoa e ainda dentro do mesmo parágrafo (Oh Sr Perdigão, hoje até estou com sentido de humor...). Porquê o orgulho próprio? “Elementar”, meu caro amigo:

- porque nunca “tranquei” nenhum carro;
- porque quando recorro ao arrumanço nos passeios preocupo-me em verificar se ficou espaço para os peões passarem sem terem que recorrer à estrada;
- porque não me importo de sair 7, 8, 10 minutos mais cedo para ir buscar o carro à única praceta onde arranjei lugar;
- porque nunca, nunquinha mesmo molhei ninguém em dias de chuva! E a esta não faço comentários – esta é só para prós e para o povo, porque só o povo sabe o que é estar numa paragem de autocarro, ou a andar num passeio, em dia de chuva e ser banhado pelos automóveis!

4ª Trivialidade

Bla bla bla e bla e blablabla.

5ª Trivialidade

Bla, bla, etc, etc. Etc.

Sr Perdigão, desde início que disse que considero cada vez mais importante sermos cuidadosos, atentos, disciplinados... e não é só com os conceitos e com as ideias... aliás, como já deve ter percebido as ideias só se atingem pela praxis e a existência é um precedente.... hoje tentei falar do cuidado com as palavras... em não usa-las sem sentido... com o cuidado com os terceiros... ai ai os terceiros!

Acho piada que nunca vemos os terceiros como vemos os “nossos”. Ficamos lixados com “f” quando alguém fala mal da “nossa” mãe, do “nosso” pai, do “nosso” irmão, dos “nossos”, compreende? Mas afinal os outros, os “terceiros” também têm os “nossos” (que são deles).

A piada (sem piada nenhuma!) está em que:

- para além das “nossas” mães, as mulheres do mundo inteiro são, já foram ou virão a ser, também, mães de alguém;
- para além dos “nossos” pais, os homens, do mundo inteiro são, já foram, ou virão a ser, também pais de alguém;
(quer que repita a frase para os irmãos, para os tios, para os outros parentescos?...)

A piada (sem piada nenhuma!) está em que a minha mãe se tiver um acidente na estrada porque não tinha passeio para andar é uma tragédia. Mas se for outra mulher qualquer, por sinal potencial ou efectiva mãe de alguém isso não me lixa absolutamente nada.

Mas a pior piada disto tudo é que se os meus filhos nascessem na Índia, principalmente se fizessem parte da Casta dos Intocáveis e um, ou dois, fizesse parte das estatísticas daquele programa que vi, seria a tragédia (para mim obviamente!).

Porque na realidade eu até estou em Portugal e a água do Luso, do Fastio e das mais belas serras deste país é deitada fora no fim das reuniões, porque nem todos tinham sede.


(...)

O mundo está demasiado cheio de trivialidades, de “coisas do dia-a-dia”...

Agora até gostava de ver o nosso “amigo sem medo” vir-me com as teorias da Essência... Ou outro amigo qualquer (seu e/ou meu) vir-nos com as teorias da Essência... da necessidade hipócrita que todos têem em moralizar, em etiquetar, em pintar de azul o negro da brevidade destas míseras existências... 6, ou 8, sei lá, ou 9 biliões de existências! No mais belo planeta do Universo! No único em que podemos respirar! No único em que há as cores do arco-iris, no céu, na terra...Com uma vida tão breve! Tão mísera! Tão mesquinha! Tão hipócrita de teorias! Até um cetáceo tem maior esperança de vida que nós! Até a águia nos dá lições de rejuvenescimento para durar em média 70 anos!

Tanta trivialidade Sr Perdigão!

E eu aqui a gozar da vida e da saúde! Morrerei ainda hoje? Amanhã? Daqui a 20 anos? Que farei até lá? Por mim, pelos outros, pelos “nossos”, pelos “terceiros”, pelo país??? ... Que tretas irei dizer aos que vierem ver o que deixei?

Que tretas existencialistas, essencialistas, morais ou religiosas, que sistema ideológico, económico ou político vamos inventar para desculpar e remediar a trampa toda que aqui andamos a fazer?

Com sorte isto ainda rebenta primeiro e não teremos nada para dizer. Com sorte até teremos um ordenado razoável e pagamos, comemos e não refilamos!

Com sorte este fim de semana prolongado hei-de descobrir um oásis, divertir-me a valer, ocupar o meu espaço e não pensar mais na Índia!

Agradeço, Sr perdigão! Agradeço sempre e já sabe porquê... Porque estou aqui!

Naia Castro